Se existe género cinematográfico que mais claramente se pode aproximar da linguagem literária, é o do filme-ensaio. Na verdade, o género ensaístico surge no século XVI, pela pena magistral de Michel de Montaigne, que se dedica, na última parte da sua vida, a escrever sem as peias do determinismo literário da época. O que lhe viesse à ideia, entre assuntos mais relevantes e tópicos fundamentalmente triviais (ou mesmo “fúteis”, para usar um dos termos do autor), poderia receber – e recebeu – a luz do pensamento e da expressão do filósofo. Assim se abria um trilho na História das Ideias, em que, ao mesmo tempo, se aliavam correntes de experimentalismo e de construção poética.

O filme-ensaio é herdeiro direto desta tradição iniciada lá atrás. A fluidez da sua própria definição faz com que nele se integrem quer documentários (para José Moure, o ensaio é mesmo uma “modalidade particular do documentário”), quer filmes de ficção. Hoje, o filme-ensaio pode também configurar manifestos estéticos e até políticos, como veremos nesta comunicação.

 

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©Vasco Célio