Sobre

O Festival Internacional de Cinema e Literatura, ao fim de duas edições, passa a ser o Festival de todo o Algarve com sede na cidade de Faro: o FICLA (Festival Internacional de Cinema e Literatura do Algarve) celebra a sua 3ª edição entre os dias 2 e 11 de Junho em diferentes espaços da cidade de Faro.

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Editorial

Durante os dias 10 e 11 de Dezembro do ano passado, apresentámos uma série de actividades (a projecção do filme “Destello Bravío” com uma masterclass da realizadora, Ainhoa Rodríguez, mas também a conferência-performance de Sónia Baptista, seguida de um colóquio entre Ainhoa Rodriguez, Sónia Baptista e Ana Isabel Soares sobre o desejo e o corpo da mulher no cinema e na literatura contemporânea, finalizando com uma jam de textos e música de Tomás Tello). Nesta edição, pretendemos revelar e explorar uma nova metodologia do Festival, passando a dar uma nova atenção a temas que consideramos fundamental reflectir, seja num ciclo específico, seja como tema transversal ao Festival, abordando o cinema e a literatura, lado a lado, a partir do que é inerente a cada prática artística.

Desde o início que o Festival de Cinema e Literatura se propôs, não como um festival de adaptações, mas antes como um festival que quer ir mais além, procurando outras ligações entre as ambas práticas artísticas, ligações inesperadas. Já tratámos, com a projeção de diferentes filmes na segunda edição, em 2020, assuntos como a identidade e a dissociação da consciência, tema este que foi o grande assunto da literatura no século XX. Agora, olharemos para ambas as práticas artísticas também como campos de convergência ou divergência em temas concretos. Portanto, este novo olhar ou metodologia, para com estas duas práticas artísticas, abre-nos – no âmbito sociológico – um espectro mais rico para a discussão contemporânea.

Nesta 3ª edição, adoptamos um símbolo de transformação e metamorfose: o camaleão. O mais importante deste símbolo é, precisamente, o processo de mutação e mudança que está ligado a toda a existência humana e à criação artística. Esta metamorfose impregna todo o Festival, desde o trabalho de Trinh T. Minh-ha até ao ciclo Corpos: “I am rooted, but I flow“, passando pela competição oficial. Como manifestamos no texto deste ciclo dos Corpos, o foco há-de colocar-se mais nos processos que nos conceitos, portanto mais que em averiguar quem somos, em apontar em quem queremos converter-nos e, sobretudo, em observar em que nos vamos transformando, afastando-nos das concepções fixas e castradoras da identidade. Um estranho nomadismo atravessa o Festival desde a sua metodologia à sua programação.

Na selecção da Competição Oficial, encontraremos realidades movediças, como em “After Blue” ou “Los Conductos”, com um realismo alucinado, ou como em “Eami” ou em “Eles Transportan a Morte”, com um realismo-mágico; viagens surrealistas e psicadélicas, fantasmagóricas e delirantes, como em “After Blue”, “Los Conductos”, “Medusa”, “Eami”, “Eles Transportan a Morte” ou “Bengali Variation”; com identidades sexuais dissidentes, como em “Moon 66 Questions”, “After Blue” ou “Heartbeast”; alegria do jogo e libertação, como em “Águas do Pastaza” e “Medusa”.

Vários dos cineastas são artistas visuais e/ou músicos/as, musicólogos/as e escritores/as. Por isso, abriremos bem os olhos (também a sua visão periférica) e os ouvidos para desfrutar da concepção sonora dos filmes em competição, mas também dos filmes dos ciclos, nomeadamente os da realizadora, escritora, musicóloga, teórica e poeta que estará presente no Festival, a vitenamita Trinh T. Minh-ha. No sentido poético, o som e a imagem têm de ser concebidos relacionalmente. A música estará sempre presente no Festival, antes e durante o mesmo e continuará após as exibições de filmes.

O FICLA foi recebido de braços abertos pela Câmara Municipal de Faro e formalizou este encontro numa co-produção. Queremos, desde já, agradecer ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Faro, Dr. Rogério Bacalhau; ao Sr. Vice-Presidente e Vereador da Cultura, Dr. Paulo Santos; e, por último, mas não menos importante, agradecer ao Chefe de Divisão da Cultura, Dr. Bruno Inácio. Um agradecimento igualmente especial é devido à Direcção Regional de Cultura do Algarve que tem acompanhado o projecto desde os seus primeiros passos e que continua ainda hoje a demonstrar o seu caloroso apoio. E, por fim, não poderíamos deixar de agradecer ao IPDJ, que será a casa mãe das exibições de filmes do Festival.